Jorge Alberto Portanova Mendes Ribeiro Filho, deputado federal pelo PMDB, filho de Jorge Alberto Beck Mendes Ribeiro e de Teresinha Rita Portanova Mendes Ribeiro, é advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e possui uma extensa atuação na vida pública.
Líder estudantil, vereador, deputado constituinte de 1987 a 1991 e deputado estadual de 1991 a 1995, secretário de Estado e deputado federal no quarto mandato, Mendes Ribeiro Filho carrega o legado de um pai ligado ao mundo da comunicação e que também trilhou carreira política.
Agência de Notícias – Que motivos o fizeram entrar na vida pública ?Mendes Ribeiro Filho – Acho que é uma questão genética. Acho que a participação pública do meu pai sempre me fez ligado a questões públicas, a minha cabeça não me pertence, ela pertence ao Estado, como pertence ao município, pertence ao País. Tudo o que crio não uso para ganhar dinheiro, mas para que as pessoas usufruam, através da melhoria do serviço público e para que se avance dia-a-dia. Eu sou um homem público.
Agência de Notícias – Qual a importância do seu pai e de outras pessoas para o seu ingresso na política? Mendes Ribeiro Filho - O pai foi importante para mim no que diz respeito ao sentido conceitual da vida pública.
O pai foi o conceito de política, como fazer política, o amor à verdade.
De todas as frases que ele disse, algumas conhecidas publicamente, e a que eu mais repito: “Mil vezes a verdade, meu filho, ela dói uma vez só, a mentira todos os dias”.
Quando eu disse que seria vereador, ele se surpreendeu. Mas tenho muitas pessoas que me ajudaram, como o doutor Celestino Duarte, de quem fui chefe de gabinete na Assembléia.
Quando me disseram que deveria ir para a carreira política, hesitei, não era aquilo que pensava para mim, pois estava concluindo o curso de Direito e cursando Jornalismo. O Mário Ramos foi importante no tocante à oratória e leitura, o Pedro Simon, o Antônio Britto, mas o meu pai tem importância fundamental no meu processo político.
Agência de Notícias – Como foi a sua experiência de vereador ?Mendes Ribeiro Filho – Acho que de todos os mandatos, todos foram de muito trabalho, mas na vereança fui presidente da Comissão de Justiça e líder da bancada e ainda ganhei o prêmio como o melhor vereador de Porto Alegre. Trabalhei muito como vereador e acho que foi a base para a eleição a deputado. Gostei muito de ser vereador de Porto Alegre.
Agência de Notícias – Como foi e o que significou ser parlamentar constituinte ?Mendes Ribeiro Filho - Tive a honra de ser o relator .
Eu escrevi a Constituição do Rio Grande do Sul . Foi uma coisa extremamente gratificante e vou levar isto para o resto da minha vida pública. Foi uma participação onde tudo tinha que ser buscado, o entendimento, acordo, caminho, diálogo. Graças a Deus tive sucesso na missão e fui auxiliado por pessoas extraordinárias como o meu amigo e irmão Carlos Araújo, o Athos Rodrigues, que não está mais entre nós, o Germano Bonow, José Fortunati, Sérgio Zambiasi, Jarbas Lima - que foi o meu presidente da Comissão de Sistematização. Tivemos pessoas extremamente lúcidas e um Parlamento muito qualificado para a missão a ser desempenhada.
Agência de Notícias – A constituinte era parte do aprendizado para a vida democrática?Mendes Ribeiro Filho - As pessoas precisam entender que o Parlamento de hoje é diferente do de ontem, e assim será sempre.
Nós teremos etapas de cultura política diferentes, de modelos políticos diferentes e isto influi na qualidade do Parlamento, na ação e na forma do Parlamento se posicionar.
Antes da Constituição nós tínhamos um Parlamento elitizado, depois passamos a ter um Parlamento mais representativo, mais segmentado.
Na medida em que formos avançando no modelo democrático e votando, nós vamos aperfeiçoando.
E à medida em que as nossas instituições forem fortalecidas iremos crescer politicamente. Aí nós teremos a cultura política aliada à representatividade e estaremos prontos para caminhar rumo à uma democracia aperfeiçoada.
Agência de Notícias – Como foi a sua experiência como deputado estadual ?Mendes Ribeiro Filho - Na Assembléia assumi a liderança do governo Simon e continuei líder do governo Guazzelli. Na eleição seguinte passei de vigésimo primeiro a terceiro mais votado e assumi a liderança da bancada do PMDB, onde fiquei por quatro anos.
As pessoas diziam que o PMDB não participava do governo. Acho participar de governo um erro, pois quem tem que governar é quem foi eleito para isto.
Durante o governo Collares eu o ajudei como líder, sempre pensei no espírito público, assim como a minha bancada, nunca precisamos participar de governo nenhum. O que mais me orgulho é do apoio de quase todos os deputados estaduais na minha eleição à Câmara Federal e muitos permanecem comigo até hoje.
Fiz uma liderança extremamente construtiva, era a minha forma de ser, trabalhar para o conjunto e não me preocupava muito com o número de emendas e projetos. Eu sempre tive muita facilidade com o processo legislativo.
O processo legislativo é muito interessante, pois você pode intervir, pegar um projeto do Executivo e mudar o projeto conforme o interesse da sociedade. Isso é maravilhoso, e aí está a intervenção do parlamentar. Sempre trabalhei muito em plenário, com uma atuação forte.
Eu era um especialista em resolver as coisas. Quantas soluções nós fizemos daqui ? Durante o período do governo Guazzelli nós fazíamos uma reunião por semana dos líderes com o governador e definíamos toda a pauta da semana. A reunião de Mesa, que hoje é dos líderes com o presidente, era na época entre os líderes e o governador.
Agência de Notícias – Que projeto seu apresentado na Casa o senhor mais preza? Mendes Ribeiro Filho – O projeto que reputo dos mais importantes foi aquele que tratava da questão da aposentadoria, que não consegui aprovar.
Mas hoje eu vejo todo o país usar. Me lembro que o Celso Bernardi dizia que a minha idéia era muito boa mas que levaria vinte anos.
Hoje já se passaram os vinte anos e nós teríamos outra situação pública, outra situação política.
Nós estabeleceríamos um marco, como ocorreu na Constituição com a lei da Previdência, deixaríamos para os que estavam, uma situação e criaríamos uma situação completamente nova a partir da constituição do Estado.
Isto foi em 1989, vinte anos atrás. Foi um debate muito importante, mas que pouca gente compreendeu e tive muita oposição ao projeto por causa do serviço público.
Hoje o serviço público sabe que eu estava com a razão. Era um caminho muito bom e oportuno para o Estado.
Agência de Notícias – Quais eram os debates mais acalorados da Assembléia no período em que o senhor foi deputado estadual?Mendes Ribeiro Filho - A questão das emancipações provocou um grande debate na Casa.
Quando comecei a fazer política o Rio Grande do Sul tinha 232 municípios e a emancipação mostrou que este era um caminho viável. Nós aumentamos a participação do Estado no Fundo Nacional de Participação dos Municípios, oportunizamos que distritos crescessem , que as pessoas recebessem atenção. Outros debates como a questão do serviço público e da pesquisa científica também foram muito importantes. Rejeitamos o aumento de impostos proposto por Alceu Collares, com o voto de minerva do presidente da Casa, Cezar Schirmer.
A questão funcional do Rio Grande era um grande debate, plano do magistério, da Brigada Militar. Era um momento muito forte das corporações.
Agência de Notícias – Que parlamentares marcaram a sua passagem pelo Parlamento gaúcho? Mendes Ribeiro Filho – Aqui nós não tínhamos disputa política. Nós trabalhávamos diferente, eu nunca tive inveja, eu não sabia o que era disputa, eu nunca disputei voto na minha vida.
Acho a disputa de voto medíocre, pois tem voto para todo mundo e cada um tem a sua característica.
Eu tinha amigos e uma relação extraordinária na Assembléia. Se eu deixar um de fora ele vai ficar bravo comigo, pois é meu amigo também. Na bancada do PMDB todos se transformaram em meus cabos eleitorais, Antonio Lorenzi, Gilberto Mussi, Constantino Picarelli, Germano Bonow, Beto Albuquerque, Porfírio Peixoto, Algir Lorenzon, Glênio Scherer, o Zambiasi que está no Senado.
Agência de Notícias – O Parlamento gaúcho foi uma boa escola para a sua trajetória política?Mendes Ribeiro Filho – Eu acho que na política é fundamental a experiência que tive na câmara de vereadores, na Assembléia Legislativa, na Câmara dos Deputados e nas três vezes que ocupei secretarias de estado. Acho que as pessoas não aprendem a conviver com o estado de repente, pois ele é muito complexo. As pessoas tem que saber como o estado é na sua engrenagem. Eu não caí de pára-quedas dentro do estado, foi a vida pública que oportunizou este conhecimento. A Assembléia me propiciou todo o debate sobre a Constituição estadual e, para escrever, eu tinha que saber.
Agência de Notícias – Como foi a sua participação no Executivo estadual ?Mendes Ribeiro Filho - Depois de líder da bancada do PMDB houve uma disputa impressionante no meu partido entre o meu pai e Antônio Britto, e eu coordenei a campanha do “velho”. Meu pai perdeu na convenção e nós sabíamos que íamos perder; ele tinha a sua forma de ser e por isso ele era o Mendes Ribeiro. Meu pai tinha posturas fortes, posições fortes, pensamentos dele e perdemos a prévia. O Britto foi o candidato, ofereceram ao pai o Senado, mas ele não quis. Acredito que meu pai tivesse durado mais, não tivesse morrido tão cedo se fosse senador. Britto ganhou a eleição, fui chamado por ele para ocupar a Secretaria de Minas e Energia, mas acabei sendo secretário de Obras Públicas. Um ano depois ele me convocou para a Casa Civil. Acabei construindo uma relação extraordinária com o Britto, e foram anos fundamentais na minha vida pública aqueles na Casa Civil.
Agência de Notícias - O que o motivou a concorrer à Câmara Federal ? Mendes Ribeiro Filho – Meu pai dizia, Jorge, aquilo lá é para ti. Quando ia a Brasília visitar meu pai ele dizia isso e alguns amigos dele também diziam. Esta proliferação de partidos políticos aviltam o Parlamento. Você precisa que vinte partidos opinem sobre cada matéria, encaminhamento de líder, e para votar alguma coisa se leva duas horas, imagina então o tempo que se gasta para “costurar”. A pior coisa que fizeram para a democracia brasileira foi o fim da cláusula de barreira. Nós teríamos seis partidos políticos, os partidos já estavam se fundindo e lá na Câmara tudo já estava adaptado e seria uma beleza. Considero que houve uma interpretação do Judiciário diferente da realidade. A letra fria da lei pode até trazer razão para o Judiciário, mas a letra do óbvio, do bom senso era aquilo que o povo e a política brasileira presisavam.
Agência de Notícias – O Rio Grande está bem representado em Brasília?Mendes Ribeiro Filho – Acho a bancada gaúcha extraordinária. Acho os nossos quadros excepcionais e tenho muito orgulho de participar desta bancada. Precisamos ter unidade e para isso, durante o período em que fui líder da bancada gaúcha, trabalhei e plantei isso.
Agência de Notícias – Quais são os avanços da vida parlamentar brasileira?Mendes Ribeiro Filho – A própria representatividade do Parlamento. Que as pessoas abram o olho com o discurso, e que discurso não significa absolutamente nada.
Agência de Notícias – Que avaliação o senhor faz da história política brasileira das últimas décadas? Mendes Ribeiro Filho – Tudo é importante, mas nós vamos avançar na maturidade política, no fortalecimento das nossas instituições. Que as pessoas entendam que o Parlamento é vital e que o voto é fundamental. Que isto nos leve ao voto consciente. Acho a ditadura dos partidos políticos um perigo, pois eu confio no voto do cidadão. Precisamos ter uma imprensa responsável e uma liberdade de imprensa cada vez mais forte, onde as pessoas respondam pela opinião errada.
Agência de Notícias – Quais são as perspectivas para o Brasil e para o Rio Grande ?Mendes Ribeiro Filho – Estamos num processo em que cada dia avançamos.